28 de outubro de 2014

Somos todos porcos

Acabei de ver a seguinte imagem compartilhada no Facebook:

Essa frase parece meio clichê e argumento de revoltadinho, mas não é.

Façamos um exercício mental sobre o ponto de vista do porco: ele vive em um local confinado e nunca teve contato com porcos livres. Tudo o que conhece e presencia todos os dias é que um ser humano vem alimentá-lo.

No começo o porco até pode ficar assustado e desconfiado do ser humano. Sem saber do motivo real por trás da alimentação, a confiança entre o porco e o ser humano aumenta a cada dia. Pois todo o conhecimento empírico dele indica que o ser humano é confiável.

Se desenhássemos um gráfico indicando o nível de confiança do porco para com o ser humano, ele estaria assim:

Neste exato ponto no tempo, não importa quão sofisticado seja o modelo matemático utilizado pelo porco, todos os indicadores numéricos indicarão que o ser humano é confiável. Logo, o porco votaria no ser humano para representá-lo, pois seria irracional dizer que o ser humano está mal-intencionado.

Até o momento em que o ser humano leva o porco para ser abatido. Neste momento o porco perde toda a confiança que ele havia construído para com o ser humano.

Infelizmente, para o porco já é tarde de mais.

Esta mudança repentina na linha de tendência é óbvia para nós, seres humanos que conhecemos o processo envolvido na criação do porco. Porém, este evento para o porco é conhecido como um "cisne negro": um evento imprevisto de alto impacto.

Ora, a imprevisibilidade depende do ponto de vista: o evento só é imprevisível para o porco, não para o ser humano. Tudo o que muda de um observador para o outro é o nível de informação sobre o processo envolvido: se o porco, mesmo sendo porco, tivesse a informação necessária, ele seria capaz de prever este evento e teria tentado se proteger de alguma forma.

A única forma de prevenção deste tipo de evento é o conhecimento. Portanto, tomemos cuidado com a mão que nos alimenta.

Leve este exercício mental para o cenário da política brasileira neste momento. Pare de acreditar que seu partido político é seu time de futebol, você não precisa mostrar para ninguém que seu partido é melhor ou menos pior do que outro. Ajuda a gerar informações que previnam os cisnes negros, independente do partido ou do político envolvido. É desta forma que ajudaremos a defender nossos vizinhos e a nós mesmos, não esqueça que todo mundo pode estar errado: tanto você quanto sua oposição.

Quer conhecer mais sobre cisnes negros? Recomendo a leitura do livro do Nassim Nicholas Taleb: The Black Swan, ou em português: A Lógica do Cisne Negro.